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Tom Jobim não era apenas um grande compositor, ele também era um gênio estrategista. 

 

Sério. Quando compôs Wave, como uma forma de garantir que a música tivesse ampla aceitação e fácil disseminação – em especial entre os músicos influentes da época que futuramente viriam a interpreta-la – ele mirou na portabilidade musical. Qual era o mais influente mercado musical daquela época senão os EUA? Quiçá até hoje? Pois bem, os músicos de jazz daquela época estavam familiarizados com um determinado tipo de compasso. Esta foi a estratégia.

Comercialmente ele criou temas que fossem fáceis para os jazzistas tocarem, isso mudou o jogo. A música brasileira até então, tinha um determinado tipo de forma, bastante influenciada pelo chorinho, mas em Wave a gente não percebe isso.

A maioria dos temas de jazz vem em formato A / A / B / A.  Na letra: Vou te contar / Que os olhos já nem podem ver… é o A, depois repete A, em seguida entra em: Da primeira vez, era a cidade… vai para o B, e depois volta para o A. Desta forma, os jazzistas veriam facilidade em compreender e por similaridade, seriam os responsáveis por propagar a música. Percebe? Diferente de composições como Luiza ou Gabriela, em que não enxergamos isso. Pela armadura de clave ele começa em RÉ maior, mas aí o Tom Jobim – faceiro – inicia as notas em RÉ menor. A introdução da entender que vai entrar em DÓ maior, só que ele engana de novo e “cai” para o RÉ maior. Foram EUA que capilarizaram a bossa nova para o mundo inteiro, mas quem deu o tom foi um brasileiro.

Dizem que tropicalizar ideias norte americanas é o que algumas startups brasileiras de sucesso fizeram, afinal, daqui a cinco anos algo que estourou lá, potencialmente poderia estourar aqui. Interessante notar que um compositor brasileiro inverteu momentaneamente o jogo e eternizou-se ao mesmo tempo.

 

Autor:

Tom Jobim

Música:

Wave

Data:

1967

Álbum:

Wave